Algo sobre Literatura de Cordel
A Origem nas Feiras Medievais
Nossa viagem em busca das origens do
cordel começa na Europa, na Idade Média, num tempo em que não existia
televisão, cinema e teatro para divertir o povo. A imprensa ainda não tinha
sido inventada e pouquíssima gente sabia ler e escrever. Os livros eram
raríssimos e caros, pois tinham de ser copiados a mão, um a um. Então, como as
pessoas faziam para conhecer novas histórias?
Pois bem, mesmo nos pequenos vilarejos
existia um dia da semana que era especial: o dia da feira. Nessas ocasiões, um
grande número de pessoas se dirigia à cidade, e ali os camponeses vendiam seus
produtos, os comerciantes ofereciam suas mercadorias e artistas se apresentavam
para a multidão.
Um tipo de artista muito querido por
todos era o trovador ou menestrel. Os trovadores paravam num canto da praça e,
acompanhados por um alaúde (um parente antigo dos violões e violas que
conhecemos hoje), começavam a contar histórias de todo tipo: de aventuras,
romance de paixões e lendas de reis valentes, como o Rei Carlos Magno e seus
doze cavaleiros.
Para guardar tantas histórias na
cabeça, os trovadores passaram a contar suas histórias em versos. Dessa forma
as rimas iam ajudando o artista a se lembrar dos versos seguintes, até chegar o
fim da história.
Ao final da apresentação, o povo
jogava moeda dentro do estojo do alaúde. O trovador, satisfeito, agradecia e
partia em direção a próxima feira.
A literatura de cordel é uma espécie
de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o
processo de xilogravura. Também são utilizadas desenhos e clichês
zincografados. Ganhou este nome, pois, em Portugal, eram expostos ao povo
amarrados em cordões, estendidos em pequenas lojas de mercados populares ou até
mesmo nas ruas.
Chegada ao Brasil
A literatura de cordel chegou ao
Brasil no século XVIII, através dos portugueses. Aos poucos, foi se tornando
cada vez mais popular. Nos dias de hoje, podemos encontrar este tipo de
literatura, principalmente na região Nordeste do Brasil. Ainda são vendidos em
lonas ou malas estendidas em feiras populares.
De custo baixo, geralmente estes
pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em
estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre
em função do preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por
retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais
assuntos retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas,
brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de
personalidades etc.
Em algumas situações, estes poemas são
acompanhados de violas e recitados em praças com a presença do público.
Um dos poetas da literatura de cordel
que fez mais sucesso até hoje foi Leandro Gomes de Barros (1865-1918).
Acredita-se que ele tenha escrito mais de mil folhetos. Mais recentes, podemos
citar os poetas José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré
(Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo. Zé Melancia, Zé Vicente, José
Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e
Ignácio da Catingueira.
Vários escritores nordestinos foram
influenciados pela literatura de cordel. Dentre eles podemos citar: João Cabral
de Melo, Ariano Suassuna, José Lins do Rego e Guimarães Rosa.
Temas na Literatura de Cordel
São muitos e variados os temas
encontrados no folheto de cordel. Alguns exemplos:
História do ciclo do cangaço;
Folhetos jornalísticos que falam de notícias regionais ou nacionais de
grande repercussão e interesse geral;
Bibliografias;
Sátiras de cunho social ou sobre política e políticos;
Desafios e pelejas entre grandes violeiros;
Temas educativos ou de esclarecimento público, usados em campanhas de
governos e prefeituras.
No entanto, os grandes campeões de
vendas sempre foram mesmo os chamados romances, com narrativas de fantasia e
encantamento. Esses folhetos trazem história de reinos misteriosos, localizados
na Europa Medieval, na Ásia ou no Oriente. Neles, guerreiros lendários,
princesas, e criaturas fantásticas adotam usos, costumes e até nomes bem
brasileiros. Sendo assim, o leitor não precisa se assustar, se, num romance de
cordel, encontrar o rei Carlos Magno descansando de uma batalha numa rede, aos
pés de um cajueiro ou de dividindo uma rapadura com seus doze cavaleiros.
Os romances de cordel também criaram
numa série de heróis populares que vencem seus inimigos através da astúcia e da
esperteza, fazendo os poderosos de bolos preparando injustiças. Entre eles, os
mais queridos são Pedro Malasartes, João Grilo e o Amarelo.
Desafios e Pelejas
O desafio é como uma batalha, só que
travada em versos e ao som de viola. Quando dois poetas, bons de rima e
improviso se encontram, daí pode surgir um desafio. O objetivo do desafio é
desfazer-se do adversário, fazê-lo parecer ridículo ou abobalhado perante a
platéia. No entanto, termos grosseiros, ofensas pessoais ou que envolvam a
família do adversário não são bem recebidos pela família.
Ao ouvir o ataque que lhe é dirigido o
adversário reage, sempre em versos rimados, desfazendo as acusações e lançando
sua própria artilharia poética. Quando os adversários são experientes e
talentosos, um desafio chega a durar horas e horas e se decide, geralmente,
mediante uma das seguintes situações:
A platéia aclama o vencedor através de gritos e palmas. Geralmente, ao
final de uma saraivada demolidora de versos.
Um dos adversários reconhece sua inferioridade e desiste da peleja por
vontade própria.
Um dos adversários não consegue encontrar resposta para alguma
provocação que lhe é dirigida.
Um dos adversários “empaca” e demora muito para encontrar a rima certa
para seu verso.
Um dos adversários apela para a violência física. Nesse caso ele é
imediatamente declarado perdedor.
Para participar de um desses embates,
o violeiro precisa possuir um grande domínio do ritmo e da arte de se
improvisar. Pensamento rápido e jogo de cintura também não podem falar e já
fizeram a fama de muitos cantadores.
Literatura Oral
Faz parte da literatura oral os mitos, lendas,
contos e provérbios que são transmitidos oralmente de geração para geração.
Geralmente, não se conhece os autores reais deste tipo de literatura e,
acredita-se, que muitas destas estórias são modificadas com o passar do tempo.
Muitas vezes, encontramos o mesmo conto ou lenda com características diferentes
em regiões diferentes do Brasil. A literatura oral é considerada uma importante
fonte de memória popular e revela o imaginário do tempo e espaço onde foi
criada.
Muitos
historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o objetivo de
buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época. Em
meio a ficção, resgata-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos,
objetos, linguagem, arquitetura etc.
Podemos
considerar como sendo literatura oral os cantos, encenações e textos populares
que são representados nos folguedos.
Métrica e rima no cordel tradicional
Quando alguém canta ou declama versos
de cordel logo se percebe o ritmo que vai se repetindo a longo da história.
Esse ritmo é resultado da métrica, ou seja, os versos precisam ser construídos
com o mesmo número de sílabas. No cordel, os versos possuem geralmente 7
sílabas. vamos tomar a seguinte estrofe como exemplo:
Nesse
instante o magrilim
Com
voz mansa e bem pausada
Disse
olhando pra princesa:
-
Ouça aqui, minha adorada,
Quero
ver se você pode
Destrinxar
essa charada.
Contando as sílabas poéticas do verso,
teremos: NES-SEINS-TAN-TEO-MA-GRI-LIM = Sete sílabas.
Se transformamos as sílabas tônicas
(pronunciadas com mais força) no som TUM, vamos encontrar o seguinte ritmo:
TÁ-TÁ-TUM-TÁ-TÁ-TÁ-TUM = Sete sílabas. Note-se que esse ritmo segue sempre
igual nos versos seguintes. Mas, as vezes, pode acontecer algo curioso.
Observe-se o segundo verso: COM-VOZ-MAN-SAE-BEM-PAU-SA-DA = Oito sílabas (?).
Como é que pode? Os versos não
deveriam todos ter sete silabas? Acontece que estamos falando de sílabas
poéticas. Em poesia, a gente só conta as sílabas de um verso até a última
tônica, aquela mais forte.
Nesse exemplo, a última sílaba tônica
é AS, da palavra pausada. Portanto aquele DA que sobrou no finzinho não entra
na conta, e a gente continua com sete sílabas poéticas. No início parece um
pouco complicado, mas depois que o poeta grava esse ritmo na cabeça, os versos
começam a surgir com grande facilidade.
Outra característica da poesia do
cordel é o uso de rimas. No exemplo acima, encontram-se rimas no segundo, no
quarto e no sexto verso: paus(ada), ador(ada) e char(ada). Já os versos 1,3 e 5
não precisam rimar com nenhum outro. Isso facilita a vida poética, que só
precisa se preocupar em encontrar três rimas por estrofe.
Poética do cordel:
-
Quadra: estrofe de quatro versos.
-
Sextilha: estrofe de seis versos.
-
Septilha: é a mais rara, pois é composta por sete versos.
-
Oitava: estrofe de oito versos.
-
Quadrão: os três primeiros versos rimam entre si; o quarto com o oitavo, e o
quinto, o sexto e o sétimo também entre si.
-
Décima: estrofe de dez versos.
-
Martelo: estrofes formadas por decassílabos (comuns em desafios e versos
heróicos).
Fontes:
culturanordestina.blogspot.com.br
cordelparaiba.blogspot.com
www.ablc.com.br
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